POEMA - A LÁGRIMA



A LÁGRIMA


Quantas lágrimas gotejam
Pelo estampado do rosto,
Em virtude da emoção
Tirar do riso o bom gosto
E a real serenidade;
Pois a sensibilidade
Derruba muitos do posto.

Se o pranto é de alegria,
Tudo bem, merece bis;
Uma prova de que o choro
Pode tornar bem feliz
Quem já sofreu o bastante,
Pois desse momento em diante
Ninguém geme ou se maldiz.

Se o pranto vem do sofrer,
Pela dor sentimental,
Ou então, fisicamente,
É coisa até natural;
O ruim é o disfarce
De um branco lenço na face,
Parecendo ser real.

A falsidade do choro
Parece até ironia,
Como se vê no velório
De uma certa burguesia;
Estranhas caras ou vultos,
Fingindo estarem de luto
Na noite da bruxaria.

São as tais das carpideiras,
Fingindo ser do defunto
Aproximadas parentes,
Sem jamais viverem juntos;
São amigas irreais,
Que só vão aos funerais
Pelo preço do presunto.

Vale então considerar
Toda a lágrima sincera,
A que vem do coração
Com flores da primavera;
Nunca de irônico estilo:
Lágrima de crocodilo,
Por certo uma besta fera.


Paulo Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário